máquina de retratos

retratos tirados ao acaso. objectos que chamam a atenção. o olhar. um olhar. o meu. sobre o mundo. o retratado. o fictício. o inexistente. o que já foi. o que ficou no filme. o que ficou gravado. uma máquina. falível, como todas as máquinas. um olhar. subjectivo como qualquer olhar. um retrato. fixo e eterno. como qualquer retrato.

4.26.2005

o momento mágico

o click. o carregar no botão. o captar de um momento e não outro. a escolha. o embate. o brilho.
aquele breve segundo em que o coração pára, em que os nossos olhos só captam aquela sensação, em que somos apenas um sopro, em que tudo se resume aquele brilho, aquele instante.
tudo tem um momento mágico. tudo. todas as escolhas que fazemos implicam esse momento. esse em que decidimos dizer sim em vez de não, esse em que sorrimos, esse em que nos aproximamos, esse em que falamos. esse em que carregamos no botão.
mas os momentos mágicos podem também ser momentos trágicos. momentos em que nada mais há a fazer. momentos em que tudo corre mal. em que a fotografia não ficou focada, em que, por esquecimento, a máquina estava sem rolo, em que tudo tremeu.

tudo na vida tem os seus momentos mágicos e os outros, os trágicos.
a vida está cheia deles. ela é, em si, um momento mágico e trágico. pelo menos quando vivida com intensidade.
todos já passámos, certamente, por esses momentos em que, consciente ou inconscientemente, tudo é brilho, tudo é belo, tudo é uma grande fotografia. em que tudo parece bater certo. em que o mundo faz, finalmente, sentido. em que sorrimos. em que dizemos sim sem pensar em mais nada. momentos em que nos enamoramos pela vida, pelo ser, pelo existir, pelo respirar.
todos também já vivemos os outros momentos.
o que me continua a transtornar, ao longo de alguns anos de existência e de confronto com a realidade, é a rapidez com que o momento mágico acaba e logo começa um momento trágico. como pode ser? como podemos nós estar tão bem num instante e, um segundo depois, um segundo passado depois do clique que retratou uma realidade perfeita e bela, tudo dá uma reviravolta e parece que já não sabemos lidar com uma máquina de retratos, que não conseguimos focar a objectiva para o ângulo mais risonho, que o mundo fica cinzento numa fotografia a cores.
como podemos desaprender tudo tão depressa? apenas um segundo depois. apenas um.
e a vida resume-se a estes dois segundos. apenas interrompida por centésimos de segundo em que ficamos suspensos, sem reacção, adormecidos para tudo.

quero momentos mágicos. quero conseguir retratar a beleza que por vezes sinto. quero ficar lá. quero conseguir não dizer não. quero ir.